A ilha de São Nicolau (em crioulo cabo-verdiano: Son Niklau, Saniklau é uma das ilhas do Barlavento de Cabo Verde. É uma ilha montanhosa com uma economia fundamentalmente agrícola, mas está sujeita a secas. Povoada pela primeira vez no século XVI, é conhecida pelas suas montanhas e pela principal vila, Ribeira Brava, há muito a sede da diocese de Cabo Verde. A sua outra vila é o porto do Tarrafal.
Para além do português, língua oficial, o crioulo cabo-verdiano é usado no dia-a-dia pela maioria da população de São Nicolau. Existe uma variante local do crioulo cabo-verdiano, na qual o nome da ilha se pronuncia Saninclau.
A ilha de São Nicolau situa-se a leste de Santa Luzia, por sua vez muito próxima de S. Vicente, e transporta o viajante ao encontro de heranças culturais do arquipélago, de paisagens singulares e de uma flora pontilhada de dragoeiros centenares. São Nicolau é também a ilha da nostalgia evocada por Cesária Évora, que nos canta a odisseia dos seus naturais emigrados por esse “caminho longe” para São Tomé.
A paisagem de São Nicolau é montanhosa e muito variada. O principal centro urbano é a Ribeira Brava ou Stancha, que deve o baptismo às torrentes impetuosas da ribeira na época das chuvas.
Nas ruas estreitas, becos e praças da vila mantém-se a inconfundível arquitetura colonial, um sinal de identidade na caminhada da História. A Igreja Matriz e a antiga Sé são edifícios que não devem passar despercebidos ao visitante, o mesmo acontecendo com o Seminário-Liceu de S. José. Por esta instituição, que foi a primeira escola secundária importante de Cabo Verde e da Região Ocidental de África, passaram grandes vultos da brilhante cultura cabo-verdiana, na segunda metade do séc. XIX.
Para oeste, vigiando a cidade, encontramos a zona do Cachaço, envolvida em frequentes nevoeiros, na ausência dos quais se pode contemplar a deliciosa paisagem sobre a Ribeira Brava. Em dias límpidos é possível observar todo o arquipélago de Cabo Verde a partir de São Nicolau, do cimo do Monte Gordo, o ponto mais elevado da ilha (1312m), graças ao seu posicionamento relativamente a todas elas.
No Porto da Preguiça podemos contemplar o Forte do Príncipe Real aí erguido e que, para além de ter servido de proteção em relação aos inimigos do império português, homenageia Pedro Álvares Cabral que por aqui passou na sua viagem que resultaria na descoberta do Brasil.
Viajando para noroeste e não muito longe da Ribeira Brava vamos ao encontro da Fajã, terra natal do grande escritor Baltazar Lopes da Silva. É um local que se distingue pelas boas potencialidades agrícolas, visíveis nas plantações que cobrem toda a paisagem, e pelos imponentes dragoeiros, árvores raras e antigas, típicas das ilhas da Macaronésia, que integram a lista vermelha da IUCN, como uma das espécies em vias de extinção, mas que abundam nesta ilha, contando-se mais de cem exemplares, e, mais interessante, verificando-se um esforço de preservação desta espécie botânica através da instalação de alfobres.
Se o visitante continuar para sudoeste encontra a balnear vila do Tarrafal. É principalmente uma vila piscatória tornada famosa pelas suas praias (do Francês e da Luz) de areias medicinais ricas em titânio e em iodo. O lugar é recomendado para alívio em doenças dos ossos e das articulações e procurado por essa razão.
Os habitantes da zona do Tarrafal vivem sobretudo da pesca e da indústria de conserva do atum, actividades que proporcionam uma boa dinâmica comunitária, tendo laborado aqui até há pouco a que era considerada a melhor fábrica de conservas deste peixe em todo o Cabo Verde.
A pesca é, aliás, uma das ocupações principais de São Nicolau, ilha conhecida pelo seu mar riquíssimo, procurado como meio de subsistência e também com finalidades desportivas. De todo o mundo chegam a São Nicolau os amantes da pesca que se envolvem na procura do blue marlin e do espadarte, espécies muito frequentes nestas águas, principalmente nos meses de Maio a Outubro.
No caminho entre o Tarrafal e Ribeira da Prata, passada a praia do Barril, vale a pena parar em Praia Branca, um povoado gentil sobranceiro à praia do mesmo nome, onde, em junho, o S. João é festejado copiosamente, com desfiles e tambores. Bem como o tradicional salto da “lumnária” (fogueira), que empresta mistério à dança tradicional da “coladera”, em que o par se aproxima e choca num gesto sugestivo de namoro, a condizer com a subida do calor do verão que começa. Não faltará a incontornável cachupada, regada com grogue, tido por muitos como o de melhor qualidade em Cabo Verde.
Para norte, fica a Ribeira da Prata. Percorrer esta distância vale a pena, principalmente para os amantes dos mitos etnográficos, porque ali existem os desenhos da Rotcha Scribida, que, não sendo embora mais que concreções sedimentares encrostados na rocha, passaram a integrar a aura de mistério que a tradição sempre lega. Mas sobretudo pela paisagem soberba e pela população verdadeiramente acolhedora que aqui encontramos.
Da Ribeira da Prata pode subir-se à Fragata no sopé do Monte Gordo, ponto privilegiado de observação com o mar a norte e a Fajã de Baixo a Sul. A subida, que demora mais de uma hora, transporta-nos por cenários idílicos dignos dos deuses. Aqui chegados, passamos a fronteira de volta a outros tempos. Tempos que nos fazem recordar as memórias dos antepassados contadas em pequenas estórias às crianças.
O Monte Gordo presta-se a um passeio soberbo a pé. Através da sua vegetação de coníferas e eucaliptos, sob a qual se desenvolve uma flora diversificada que determinou a classificação deste espaço como Parque Natural, chega-se à cratera, 500 metros abaixo do topo, e em cujo interior se cultiva o café. O cume é seco e despido, o que permite, em dias de boa visibilidade, observar daqui todas as ilhas do arquipélago.
Um outro passeio obrigatório na ilha é o Juncalinho. Na costa nordeste da ilha, depois de Juncalinho e Figueira do Coxo, há uma esplendorosa piscina natural de águas esverdeadas, contrastando com a aridez desta parte leste da ilha, em forma de “cabo de machado pré-histórico”. O edifício do antigo Orfanato das Irmãs do Amor de Deus aguarda obras para albergar o projetado Museu de Arte Sacra.
Como em todo o país, S. Nicolau não se fica atrás na importância dada à gastronomia, ostentando um prato que leva o seu nome: o modje de São Niclau, ou “modje de capóde” ou ainda “modje de Manel Antóne”. É um delicioso ensopado de cabrito, que se pode degustar nos poucos restaurantes de Ribeira Brava ou Tarrafal.
Também a música está em S. Nicolau presente em todos os momentos da vida da ilha, indo aqui o destaque para um género que, a par da contradança, veio da Europa: a mazurca. Toda a gente aqui sabe dançá-la, na sua modulação saltitante, protagonizada pelo violino.